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Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) no Adulto

Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) no Adulto

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio do neurodesenvolvimento do indivíduo, que normalmente é percebido à medida que a criança cresce e passa a ter demandas sociais e educacionais.

 

Via de regra, o TDAH tem início na infância e se caracteriza por quadros de desatenção, hiperatividade motora e impulsividade.

Até os anos 1970, esse transtorno era visto como limitado ao início da vida, cujos sintomas desapareceriam com a normalização do desenvolvimento até a vida adulta.
Atualmente, sabe-se que várias das crianças portadoras de TDAH continuam a apresentar sintomas ainda significativos ao longo da vida, mesmo que possam ser observadas mudanças quantitativas ou qualitativas na sua apresentação, especialmente no que diz respeito aos sintomas de hiperatividade e impulsividade.

Na vida adulta, tais indivíduos podem se adaptar às suas dificuldades buscando ambientes onde haja menor demanda de determinados tipos, ou os sintomas persistentes nessa fase podem não ser suficientes para preencher os critérios para diagnóstico de TDAH (mesmo que ainda haja algum prejuízo funcional). No entanto, vários deles percebem um claro prejuízo em comportamentos, como dificuldades no trabalho, escolaridade menor do que o que poderiam alcançar com o seu potencial, descompasso entre conhecimentos e habilidades em relação às conquistas em diversas áreas, maior envolvimento em acidentes de trânsito, problemas nos relacionamentos afetivos e familiares etc.


Diagnóstico

Para o diagnóstico do TDAH em adolescentes mais velhos e adultos, há critérios descritos pela Associação Americana de Psiquiatria no DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e modificados para o contexto da vida adulta, conforme a seguir:

 

Critério A

Um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento, conforme caracterizado nos itens 1 e/ou 2, abaixo descritos:

Item 1. Desatenção

Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais:

  1. Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades;
  2. Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
  3. Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente;
  4. Frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho;
  5. Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;
  6. Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado;
  7. Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades;
  8. Com frequência é facilmente distraído por estímulos externo;
  9. Com frequência é esquecido em relação a atividades cotidianas.

Item 2. Hiperatividade e impulsividade

Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais:

  1. Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira;
  2. Frequentemente levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado;
  3. Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado. (Nota: Em adolescentes ou adultos, pode se limitar a sensações de inquietude.);
  4. Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente;
  5. Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado" (p. ex., não consegue ou se sente desconfortável em ficar parado por muito tempo, como em restaurantes, reuniões; outros podem ver o indivíduo como inquieto ou difícil de acompanhar);
  6. Frequentemente fala demais;
  7. Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída;
  8. Frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez;
  9. Frequentemente interrompe (ou se intromete).

 

Critério B

Vários sintomas estavam presentes antes dos 12 anos de idade.

 

Critério C

Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estão presentes em dois ou mais ambientes (p. ex., em casa, na escola, no trabalho; com amigos ou parentes; em outras atividades).

 

Critério D

Há evidências claras de que os sintomas interferem no funcionamento social, acadêmico ou profissional ou de que reduzem sua qualidade.

 

Critério E

Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou outro transtorno psicótico e não são mais bem explicados por outro transtorno mental.

 

Atualmente, um dos instrumentos utilizados para auxiliar o diagnóstico do TDAH no adulto é a DIVA 2.0 (saiba mais em https://www.comportarte.com.br/comportarte-blog/entrevista-para-diagnostico-do-tdah-em-adultos), entrevista semiestruturada desenvolvida para adultos e traduzida para o português do Brasil. Ela permite que os profissionais investiguem mais detalhadamente e de forma dirigida os sinais e sintomas observados, junto aos indivíduos e sua famílias, analisando também o quanto eles comprometem o seu funcionamento nas diversas áreas da vida.

Saber que o TDAH pode persistir ao longo da vida, é muito importante e permite identificar pessoas que apresentam prejuízos relacionados a esse quadro, mesmo que ele ocorra na forma residual, em que os sintomas não são suficientes para preencher os critérios para o diagnóstico. A avaliação apropriada deve ser feita por um médico, psiquiatra ou neurologista, preferencialmente que tenha experiência nos cuidados de adultos com esse transtorno. A partir daí, é possível oferecer um tratamento, com medicamentos e/ou treinamentos voltados para reabilitação funcional, o que permite, muitas vezes, que a pessoa melhore bastante seu desempenho e tenha uma vida mais satisfatória e com melhor autoestima.

 

Referências e sugestões de leitura:
KESSLER, RC1, et al. Patterns and predictors of attention-deficit/hyperactivity disorder persistence into adulthood: results from the national comorbidity survey replication. Biol Psychiatry. 2005 Jun 1;57(11):1442-51.

American Psychiatry Association (APA). Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders - DSM-5. 5th.ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013.

 

https://www.healthline.com/health/adhd/adult-adhd

https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/tdah-nao-tem-idade-para-comecar/

 

Texto escrito por:
Anny Karinna P. M. Menezes - Médica Psiquiatra e Analista do Comportamento (CRM-SP 89012; RQE 29874)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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